Uma comitiva com membros de instituições que integram a rede de enfrentamento à violência contra as mulheres no Ceará visita, nesta quarta-feira (17), o município de Uruburetama, onde o médico e prefeito afastado José Hilson de Paiva foi denunciado por abusar sexualmente de pacientes. Os órgãos irão oferecer atendimento social, psicológico e jurídico às vítimas do suspeito.
O G1 teve acesso a 63 vídeos de José Hilson com as pacientes. As gravações mostram Hilson com a boca nos seios de mulheres sob o pretexto de estar tirando secreção e penetrando as pacientes, alegando que precisava “desvirar” o útero delas. Para a Associação Médica Brasileira, as imagens mostram “claramente” um caso de estupro de pacientes. Hilton de Paiva afirma que as denúncias são uma jogada da oposição que quer “derrubá-lo”.
Após as denúncias, os vereadores de Uruburetama votaram pelo afastamento de 90 dias do médico e prefeito do município. Além disso, o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) afirmou que expulsou o médico da sigla. Nesta terça-feira (16), Artur Wagner Vasconcelos Nery, vice-prefeito de Uruburetama, assumiu a prefeitura e disse que se “arrepende” da aliança com o antigo gestor. Já o Conselho Regional de Medicina do Estado do Ceará (Cremec) decidiu pela interdição cautelar de José Hilson, que ficará impedido de exercer a profissão de médico por seis meses.
Integrantes da Defensoria Pública do Estado do Ceará, do Ministério Público, do Governo do Ceará, da Assembleia Legislativa, da Ordem dos Advogados do Brasil e representantes de movimentos de mulheres visitarão a delegacia, a promotoria de Justiça e o Fórum de Uruburetama para auxiliar na apuração dos fatos denunciados.
Uma das vítimas foi abusada quando tinha 14 anos. Atualmente maior de idade, ela diz que nunca contou nada pra ninguém sobre o caso e que voltava a se consultar com o doutor Hilson porque ele era o único ginecologista de Uruburetama.
“Ele sempre trancava a porta, mandava a gente entrar e mandava a gente tirar a roupa. Pegava no seio, ficava pegando no corpo da gente, colocava o pênis dele na gente.”
De acordo com a Defensoria, as instituições irão contactar atores políticos da região e movimentos sociais para que sejam identificadas demandas emergenciais.
Conforme a defensora pública e supervisora do Núcleo de Enfrentamento à Violência contra a Mulher, Jeriza Braga, a Defensoria está “tomando pé da situação” e tem buscado ampliar a rede de garantia dos direitos das mulheres no município, além de cobrar a devida responsabilização do autor dos crimes. “A mulher, quando vítima de violência, não tem a mesma paridade de armas e precisa de um olhar diferenciado de todas as instituições”, afirma.
Situação ‘nunca vista no Ceará’
Segundo a presidente da Comissão da Mulher Advogada da OAB Ceará, Christiane Leitão, as denúncias são “gravíssimas” e precisam ser apuradas com rigor. “A OAB vai integrar e reforçar os mecanismos de defesa das mulheres, que se formará através dessas instituições para, em especial, atender a essa situação nunca antes vista no estado do Ceará”.
A Secretaria da Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos (SPS) informa que assistentes sociais e psicólogas do Centro de Referência de Apoio às Vítimas de Violência (CRAVV) tentarão contato com algumas mulheres que sofreram abuso e já foram identificadas. A Ouvidoria Estadual de Direitos Humanos estará à disposição para atender mulheres que não saibam a quem recorrer ou que medidas tomar.
Intimidação das vítimas
Mulheres que denunciaram abusos sexuais sofridos durante consultas realizadas pelo médico José dizem que foram ameaçadas por aliados políticos dele. Segundo as vítimas, vereadores passaram a ameaçar a integridade física das ex-pacientes do prefeito desde que as revelações dos abusos vieram à tona.
As vítimas do médico afirmam que alguns vereadores que apoiavam o então prefeito realizaram ameaças para que as acusações fossem retiradas.
“Fui ameaçada por alguns vereadores que estão do lado dele, porque estão dizendo que tudo que aconteceu é mentira, mas não é”, revela a mulher, que pediu para não ser identificada.