Ouvir Dona Zefinha é como aceitar o convite para uma viagem. Repleto de sons, poesia, causos e humor, o cotidiano do Interior com suas feiras e brincadeiras populares, quinquilharias de mercado, reisados e crianças soltas pela rua, aparece em meio a composições de uma trajetória que, agora em 2018, celebra 25 anos. É música? É circo? É teatro, arte de rua? Dona Zefinha é tudo isso junto e, justamente por conta do muito que é, Orlângelo Leal (músico, ator, diretor, compositor) confessa ser difícil, por vezes, explicar. Para eles e, consequentemente, os outros.
“Eu acho que esse é o nosso principal drama. Porque estamos fora das ‘caixinhas prontas’. Essa coisa de hibridação é bom, e é ruim. Bom porque, de uma certa forma, é inovador. Mas tem horas que a gente é barrado mesmo quando afunilam os processos seletivos (festivais, editais). Mas eu pretendo continuar nesse universo e cada vez mais investigá-lo porque é como eu concebo a obra. Ela é sonora, e ela é cena. É humor, mas ao mesmo tempo, tem uma criticidade. Então é tudo isso junto e eu fico feliz por ser desse formato”, ressalta o músico.
O início do grupo tem local e data: Itapipoca (135 km de Fortaleza), início dos anos 1990, tendo como embrião uma trupe batizada de Metamorfose. “Entre 1991 e 1997, 1998, é que entram os meninos (irmãos Paulo Orlando e Ângelo Márcio) e eu começo a fazer show de palhaço para animação de aniversário e de escolas. Aí começam os primeiros rabiscos do que vai ser, em 2012, o disco O Circo sem Teto da Lona Furada dos Bufões. A gente começa a estudar a palhaçaria e, com isso, a dominar a técnica”, explica Orlângelo, que também é oriundo do extinto Colégio de Direção Teatral.
“Eu pretendo continuar nesse universo e cada vez mais investigá-lo porque é como eu concebo a obra. Ela é sonora, e ela é cena”
“Oswald Barroso é o nosso grande tutor, conheço o Antônio Nóbrega… Então essas pessoas ajudaram muito. Também encontrei nessa época o Júnior Santos, um grande artista, que nos ensinou muito sobre teatro de rua. No Colégio de Direção Teatral, conheço a Herê Aquino, participo do (espetáculo) Morte e Vida Severina e aí é que as pessoas começaram a dizer: ‘Rapaz, por que vocês não montam uma banda?’. Surge a Dona Zefinha, em 2000, mas até chegar nela, nós passamos por todas essas experiências que envolvem a arte de rua, os folguedos populares, o universo da palhaçaria e o teatro, dentro dessa lógica da dramaturgia”, resgata.
O ano de 2011 marca a data de inauguração, na própria Itapipoca, da Casa de Teatro Dona Zefinha (dividida em escritório, local de ensaio e gravação de CD, sala de figurinos e adereços). “Ela surgiu num momento importante porque, com o passar dos anos, a gente foi juntando muito material. Teve uma hora que a gente perdeu o controle”, sintetiza. Além dos irmãos Orlângelo Leal, Ângelo Márcio e Paulo Orlando, a Dona Zefinha (cujo nome homenageia uma vizinha de sua mãe, que morava em Juazeiro do Norte) também conta com Joélia Braga, Samuel Furtado, Vanildo Franco, Maninho e Tamily Braga.
Mais quatro álbuns dão conta do trabalho do grupo: Cantos e Causos (2002), Zefinha vai à Feira (2007), Invocado: Um Jeito Brasileiro de Ser Musical (livro-CD, 2014) e Da Silva – El Hijo de Las Américas (2018). Um apanhado desse repertório, além de ações formativas, será o destaque das comemorações de 25 anos com o projeto de circulação Dona Zefinha Volante, que irá passar pela Paraíba (de hoje a domingo), Juazeiro (21 a 25/3), Fortaleza (27/3, 17 e 18/4), Jaguaribe (5 a 8/4) e Itapipoca (10 a 12/5).
“Eu sei que a gente tem que se adaptar e buscar novas formas de sobrevivência no mercado, nessa fase política, mas pretendemos continuar como a gente sempre foi”, conclui Orlângelo.
SERVIÇO
Circulação “Dona Zefinha Volante – Programação Cultural Itinerante”
Quando: de 7 a 11 de março (Paraíba); de 21 a 25 de março (J. do Norte); 27 de março, 17 e 18 de abril (Fortaleza); de 5 a 8 de abril (Jaguaribe); e de 10 a 12 de maio (Itapipoca).
Quanto: gratuito
Info: (88) 98870 0007 / www.donazefinha.com.br