O drama enfrentado há anos pelos moradores do distrito de Deserto, em Itapipoca, continua sem solução. Mesmo após decisão judicial transitada em julgado que obriga a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (CAGECE) a fornecer água potável à população local, o que ainda sai das torneiras da comunidade é um líquido escuro, barrento, com forte aspecto de lama — completamente impróprio para o consumo humano.
A água turva, com aparência lamacenta, tem gerado revolta e sofrimento entre os moradores, que se sentem abandonados pelo poder público. O caso é objeto de uma ação civil pública (processo nº 0028389-14.2018.8.06.0101) e já foi amplamente denunciado pela comunidade, mas o desrespeito continua.
A própria CAGECE, em resposta às cobranças judiciais, admitiu em documento oficial que a Estação de Tratamento de Água (ETA) do Deserto tem uma falha de concepção. A tecnologia utilizada, chamada de filtração direta ascendente, não é eficiente para tratar a água do Rio Mundaú, cuja turbidez aumenta significativamente no período chuvoso. Em outras palavras, o sistema já nasceu ineficiente.
Mesmo ciente da ineficácia do tratamento, a Companhia mantém o fornecimento da água nessas condições e ainda cobra pelo serviço. Segundo a empresa, a solução definitiva exige a elaboração de um novo projeto técnico, captação de recursos, licitação e uma obra de reestruturação — um processo que pode levar anos até ser finalizado.
Enquanto isso, a população do Deserto continua usando uma água que, segundo relatos, não serve nem para lavar roupas. Cozinhar, tomar banho ou beber torna-se um risco à saúde pública, especialmente para crianças, idosos e pessoas com imunidade fragilizada.
A situação configura grave violação ao Código de Defesa do Consumidor, que em seu artigo 22 determina que os serviços públicos devem ser prestados de forma adequada, segura e contínua. No entanto, o fornecimento de uma água com cor e cheiro de barro — e aspecto claramente lamacento — é tudo menos adequado.
A manutenção desse cenário, mesmo após decisão judicial, revela o abismo entre o direito garantido no papel e a realidade vivida pelas comunidades vulneráveis. O caso do Deserto é um exemplo alarmante da ineficiência do Estado em garantir condições mínimas de dignidade à sua população.
A comunidade segue aguardando providências reais, exigindo que as promessas saiam do papel e que o fornecimento de água potável — um direito humano fundamental — finalmente se torne realidade. Até lá, o Deserto continua a viver um cotidiano de exclusão, adoecimento e indignidade.