A bancada do PDT na Câmara dos Deputados anunciou, nesta terça-feira (6), que está deixando oficialmente a base de apoio ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A decisão foi tomada quatro dias após o então ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, também presidente nacional do partido, pedir demissão em meio à crise provocada pela descoberta de fraudes em descontos aplicados a aposentados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Segundo o líder do PDT na Câmara, deputado Mário Heringer (MG), o partido não passará à oposição, mas adotará uma postura de independência. Ele afirmou que a saída da base não é uma retaliação pela exoneração de Lupi, mas sim o desfecho de um longo processo de insatisfação com o governo.
“Esse problema de relacionamento com o governo já vem há muito tempo. A questão do INSS, que é uma questão muito importante para nós e para todos os brasileiros, foi, na verdade, mais um episódio. Foi o pingo d’água que faltava. Não é retaliação”, disse o parlamentar.
A reunião da bancada ocorreu em Brasília e contou com a presença do próprio Carlos Lupi. Heringer destacou que, apesar de reconhecer avanços do governo Lula, o PDT se sentiu desrespeitado e ignorado nas articulações políticas.
“Apoiar o governo Lula não é problema nenhum para a gente, até porque é o governo que está aí. E tem feito um trabalho que eu reputo de um trabalho bom para o Brasil. Mas o governo Lula não está dando, e não estava dando desde antes, a reciprocidade e o respeito que o PDT julga merecer”, completou o líder.
Escândalo no INSS
A saída de Carlos Lupi do comando do Ministério da Previdência ocorreu após a deflagração de uma operação conjunta da Polícia Federal (PF) e da Controladoria-Geral da União (CGU), que apura um esquema de descontos indevidos de mensalidades associativas aplicados sobre benefícios previdenciários.
As investigações indicam que as irregularidades tiveram início em 2019, durante o governo Jair Bolsonaro, e continuaram nos anos seguintes. Estima-se que o esquema tenha movimentado cerca de R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024, segundo dados preliminares da Polícia Federal.
O caso já provocou a exoneração do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, o afastamento de quatro dirigentes da autarquia e de um policial federal que atuava em São Paulo. O escândalo foi apontado pelo PDT como fator determinante para a decisão de se desligar formalmente da base governista na Câmara.
Apesar do rompimento político, o novo ministro da Previdência segue sendo um nome do PDT: Wolney Queiroz, ex-deputado federal e então secretário executivo da pasta, assumiu o lugar de Lupi. A permanência de Queiroz no governo, no entanto, ainda será debatida internamente pelo partido.
Com a saída do PDT da base aliada, o governo Lula enfrenta mais um desafio de articulação política no Congresso, onde já depende de negociações constantes com partidos do chamado “centrão” para garantir votações e aprovações de projetos.