A taxa média de juros das operações de crédito livre para famílias e empresas chegou a 42,3% ao ano em janeiro, segundo as Estatísticas Monetárias e de Crédito divulgadas nesta quinta-feira (29) pelo Banco Central (BC). O percentual representa um aumento de 1,6 ponto percentual (p.p.) em relação a dezembro e um avanço de 4,6 p.p. nos últimos 12 meses.
Nas contratações de crédito para empresas, o custo médio atingiu 24,2% ao ano, alta de 2,5 p.p. no mês e 1,7 p.p. em relação a janeiro do ano passado. Para as famílias, o custo médio do crédito chegou a 53,9% ao ano, com aumento de 0,8 p.p. no mês e 1,6 p.p. em 12 meses.
Fatores que impulsionaram o aumento dos juros
Segundo o Banco Central, o aumento do custo do crédito para as famílias foi influenciado principalmente pelo crescimento das taxas do crédito pessoal não consignado vinculado à composição de dívidas (+5,3 p.p.) e do financiamento para aquisição de veículos (+2,0 p.p.). Além disso, houve maior participação do cartão de crédito rotativo na composição da taxa média de juros do segmento.
Já para as empresas, os principais fatores foram os aumentos nas taxas médias das operações de cartão de crédito rotativo (+103,1 p.p.), capital de giro com prazo de até 365 dias (+9,3 p.p.) e capital de giro com prazo superior a 365 dias (+1,7 p.p.).
Saldo total de crédito no país
O Banco Central informou que o saldo total das operações de crédito no Brasil permaneceu estável em janeiro, totalizando R$ 6,5 trilhões. Esse resultado foi impulsionado pelo aumento de 1,2% na carteira de crédito para pessoas físicas, que atingiu R$ 4 trilhões, enquanto o saldo para empresas caiu 1,8%, somando R$ 2,5 trilhões.
Em 12 meses, o crédito no Sistema Financeiro Nacional (SFN) cresceu 11,7%, superando a taxa de 11,5% registrada em dezembro. Os saldos de crédito para empresas e famílias avançaram, respectivamente, de 9,9% para 10,2% e de 12,5% para 12,7%.
Crédito livre e direcionado
O saldo do crédito livre, modalidade em que os bancos têm autonomia para definir taxas e condições, alcançou R$ 3,7 trilhões em janeiro. O valor representa uma queda de 0,5% no mês, mas um crescimento de 11,5% em relação ao mesmo período do ano passado.
Para as empresas, o crédito livre somou R$ 1,5 trilhão, com queda mensal de 3,2% e aumento de 9,7% em 12 meses. A redução foi puxada pela queda na carteira de desconto de duplicatas e outros recebíveis (-15,6%), além dos recuos nos estoques de capital de giro total (-1,0%) e antecipação de faturas de cartão de crédito (-2,6%).
Já o crédito livre para famílias cresceu 1,4% no mês e 12,7% em um ano, totalizando R$ 2,2 trilhões. Entre as principais modalidades, destacam-se o crédito pessoal não consignado (+2,6%), financiamento para aquisição de veículos (+2,0%) e cartão de crédito rotativo (+6,7%).
No caso do crédito direcionado, que segue regras do governo e é voltado para setores como imobiliário, rural e infraestrutura, o saldo chegou a R$ 2,7 trilhões, com alta de 0,9% no mês e 12,1% em 12 meses. O crédito direcionado para empresas subiu 0,6% no mês e 11,1% no ano, enquanto para pessoas físicas cresceu 1,0% no mês e 12,6% no acumulado de 12 meses.
Inadimplência e endividamento
A taxa de inadimplência do crédito total do Sistema Financeiro Nacional, considerando atrasos superiores a 90 dias, foi de 3,2% em janeiro, um aumento de 0,3 p.p. no mês e uma leve queda de 0,1 p.p. em relação ao mesmo período do ano passado.
No crédito livre, a inadimplência atingiu 4,4%, com alta de 0,3 p.p. no mês e queda de 0,2 p.p. em 12 meses. Para as empresas, a taxa ficou em 2,8%, enquanto para as famílias chegou a 5,5%, ambos registrando aumento de 0,3 p.p. no mês.
O nível de endividamento das famílias, que mede o percentual da renda comprometida com dívidas, ficou em 48,3% em dezembro, estável em relação ao mês anterior e 0,6 p.p. acima do registrado no final de 2023. O comprometimento de renda com crédito subiu para 26,8%, maior nível desde outubro do ano passado.
Crédito ampliado ao setor não financeiro
O Banco Central também destacou que o saldo do crédito ampliado ao setor não financeiro, que inclui recursos captados no exterior por meio de empréstimos e emissão de títulos, atingiu R$ 18,5 trilhões em janeiro, o equivalente a 155,6% do PIB. O montante representa uma queda de 0,8% no mês, puxada pelo recuo de 4,8% no estoque de captações externas, influenciado pela valorização do real frente ao dólar (+5,9%).
O crédito ampliado às empresas somou R$ 6,6 trilhões, o que corresponde a 55,2% do PIB, com queda de 1,9% no mês. Já o crédito ampliado às famílias chegou a R$ 4,3 trilhões (36,3% do PIB), com alta de 1,1% no mês e 12,6% em 12 meses, refletindo principalmente os empréstimos concedidos pelo SFN.
Perspectivas
Especialistas apontam que a trajetória dos juros e do crédito nos próximos meses dependerá do cenário macroeconômico, incluindo a política monetária do Banco Central, a inflação e a demanda por financiamentos. O mercado segue atento às próximas decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre a taxa Selic, que pode impactar diretamente as condições de crédito no país.