O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central aumentou, por unanimidade, a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto percentual, fixando-a em 14,75% ao ano. A decisão, amplamente esperada pelo mercado financeiro, marca a sexta alta consecutiva da Selic e leva os juros ao maior patamar desde agosto de 2006.
A elevação da taxa ocorre em meio ao avanço dos preços de alimentos e energia, além das incertezas que cercam a economia global. Em comunicado divulgado após a reunião, o Copom reforçou que o cenário ainda é de grande incerteza e exigirá prudência por parte da autoridade monetária em suas próximas decisões.
“Para a próxima reunião, o cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”, destacou o colegiado no documento.
A nova alta consolida o ciclo de aperto monetário iniciado em setembro do ano passado, quando a Selic deixou o patamar de 10,5% ao ano. Desde então, foram aplicados sucessivos aumentos: um de 0,25 ponto, outro de 0,5 ponto e três elevações de 1 ponto percentual cada.
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Inflação segue pressionada
A Selic é o principal instrumento do Banco Central para conter a inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em abril, o IPCA-15 — prévia da inflação oficial — subiu 0,43%, acumulando alta de 5,49% em 12 meses. Embora tenha havido desaceleração em relação a março, os alimentos continuam exercendo forte pressão sobre os preços.
A inflação acumulada está acima do teto da meta contínua estipulada pelo Conselho Monetário Nacional, que é de 3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo (entre 1,5% e 4,5%). Pelo novo modelo em vigor desde janeiro, a meta é monitorada mês a mês, considerando a inflação acumulada em 12 meses a partir de um ponto móvel, e não mais apenas no fim do ano.
De acordo com o último Relatório de Inflação do BC, divulgado em março, a projeção do IPCA para 2025 foi elevada para 5,1%, e poderá ser revista no próximo relatório, que sai no fim de junho. Já o boletim Focus, pesquisa semanal do Banco Central com instituições financeiras, aponta que a inflação deve fechar 2025 em 5,53%. Um mês atrás, a expectativa era ainda maior: 5,65%.
No cenário de referência apresentado no comunicado do Copom, a autoridade monetária agora prevê que o IPCA chegará a 4,8% em 2025 e a 3,6% no final de 2026, considerando um horizonte estendido de até 18 meses para avaliar os efeitos da política monetária.
Juros altos freiam consumo, mas afetam crescimento
O objetivo do aumento da Selic é desacelerar a inflação ao encarecer o crédito e reduzir o consumo. No entanto, esse movimento também tem impacto direto sobre o ritmo da economia, dificultando o crescimento. O próprio Banco Central revisou, no último Relatório de Inflação, a previsão de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) para 2025, reduzindo-a para 1,9%. O mercado financeiro projeta algo semelhante, com expectativa de crescimento de 2% no próximo ano.
A taxa Selic é referência para as demais taxas de juros da economia e influencia diretamente os financiamentos, empréstimos e aplicações financeiras. Ao subir a Selic, o Banco Central busca conter a demanda e incentivar a poupança, freando o avanço dos preços. Por outro lado, para que a Selic volte a cair, a autoridade monetária precisa ter confiança de que a inflação está controlada e que não há riscos de novas pressões inflacionárias.