Faleceu na noite desta terça-feira (13), em Salvador, o médium e líder espírita Divaldo Pereira Franco, aos 98 anos. Segundo a assessoria da Mansão do Caminho, instituição que fundou e dirigia, a causa da morte foi falência múltipla dos órgãos. Desde 2023, Divaldo enfrentava sérios problemas de saúde, incluindo um diagnóstico de câncer de bexiga, identificado em novembro do ano passado.
O velório será realizado nesta quarta-feira (14), das 9h às 20h, no ginásio da Mansão do Caminho, no bairro Pau da Lima. O sepultamento está marcado para a manhã de quinta-feira (15), às 10h, no Cemitério Bosque da Paz, no bairro Nova Brasília.
Mesmo debilitado e com dificuldades para se alimentar, Divaldo seguiu lúcido até o fim. Em abril, a instituição havia informado que ele havia concluído o tratamento oncológico e estava em remissão, embora ainda enfrentasse complicações nutricionais e dependesse de sonda.
Legado espiritual e social
Divaldo Franco foi um dos principais expoentes do espiritismo no Brasil e no mundo. Ao lado de Nilson de Souza Pereira, o “Tio Nilson”, fundou, em 1947, o Centro Espírita Caminho da Redenção, que mais tarde deu origem à Mansão do Caminho, obra social com mais de 50 edificações espalhadas por um terreno de 80 mil metros quadrados em Salvador.
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O complexo abriga creches, escolas, cursos técnicos, panificadora, centro médico e projetos assistenciais, sendo responsável por transformar milhares de vidas. Estima-se que mais de 35 mil crianças e jovens tenham estudado na instituição, que também já acolheu aproximadamente 680 órfãos até sua emancipação. Atualmente, a Mansão conta com cerca de 300 funcionários e 400 voluntários.
A trajetória, no entanto, começou de forma modesta. “Começamos com uma escola à sombra de uma mangueira. Arrumamos caixotes de cebola para fazer carteira e no quintal nós dávamos aula. Aí, nasceu esse ideal de educar”, relembrou Divaldo em entrevista ao portal F5.
Mediunidade desde a infância
Nascido em Feira de Santana (BA), em 5 de maio de 1927, Divaldo foi o último de 12 irmãos — cinco dos quais faleceram ainda na infância. Desde cedo, manifestou sua mediunidade, algo que gerou desconfiança e resistência da família. Aos quatro anos, relatou seu primeiro contato com um espírito: a avó materna, já falecida. Durante a juventude, foi rotulado como “louco” e chegou a ser encaminhado por seu chefe a um psiquiatra, que cogitava aplicar-lhe eletrochoques — procedimento do qual Divaldo fugiu após alerta espiritual.
A virada em sua vida veio em 1944, com a morte do irmão José. Após seis meses paralisado, foi curado com a ajuda da médium Ana Ribeiro Borges, a “Dona Naná”, que o introduziu à doutrina espírita. No ano seguinte, mudou-se para Salvador, aprofundando-se no espiritismo e iniciando uma jornada que uniria fé, caridade e educação.
Autor de mais de 250 livros
Além do trabalho assistencial, Divaldo também foi um dos mais prolíficos autores espíritas do país. Com mais de 250 livros psicografados e dez milhões de exemplares vendidos, teve obras traduzidas para mais de 15 idiomas, incluindo albanês, húngaro e tcheco. Seu primeiro livro, Messe de Amor, foi ditado pela mentora espiritual Joanna de Ângelis, com quem teve longa ligação mediúnica. Outros espíritos como Anália Franco, Amélia Rodrigues e Bezerra de Menezes também assinaram obras por meio dele.
Divaldo fez conferências em mais de 60 países, divulgando a doutrina espírita e reforçando seu compromisso com a educação moral. Para ele, a chave para uma sociedade melhor estava nos valores: “Allan Kardec perguntou aos espíritos qual era a grande solução para o problema da humanidade e a resposta foi: a educação. Não aquela que se adquire pelos livros, mas aquela que tem a ver com as qualidades morais”.
O “novo Chico Xavier”
Frequentemente comparado a Chico Xavier, com quem cultivou amizade, Divaldo recusava o título de sucessor: “Pra mim, ele é um grande mestre. Não me sinto um continuador do trabalho dele, mas me sinto como alguém envolto, como ele, da propaganda do espiritismo. Ele era ‘o concur’ pela sua irradiação de amor e paz”.
Divaldo Franco parte deixando uma obra de vida dedicada à espiritualidade, à compaixão e à transformação social, reverenciado como um dos grandes nomes da história do espiritismo no Brasil.