Morre Niède Guidon, arqueóloga que revelou ao mundo a riqueza da Serra da Capivara

Pesquisadora dedicou mais de cinco décadas à proteção do patrimônio arqueológico no Piauí e foi referência internacional em ciência, meio ambiente e valorização cultural.

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A arqueóloga Niède Guidon, uma das maiores referências da arqueologia brasileira, morreu nesta quarta-feira (4), aos 92 anos. A informação foi confirmada por meio das redes sociais do Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, onde dedicou grande parte de sua vida profissional. A causa da morte não foi divulgada.

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Niède revelou ao mundo as pinturas rupestres milenares da Serra da Capivara, mudando paradigmas sobre o povoamento das Américas. Seu trabalho colocou o Brasil no centro do debate científico internacional e impulsionou ações de preservação ambiental e desenvolvimento social na caatinga piauiense.

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“Com coragem, paixão e compromisso com a ciência, fundou a Fundação Museu do Homem Americano (FUMDHAM) e lutou por décadas para proteger e divulgar a riqueza arqueológica do Brasil. Sua trajetória deixa um legado imensurável para a ciência, a cultura e a memória do nosso país”, diz o comunicado oficial do parque.

Reconhecimentos e prêmios

Ao longo de sua trajetória, Niède Guidon recebeu diversos prêmios e homenagens nacionais e internacionais. Em 2024, foi agraciada com o Prêmio Almirante Álvaro Alberto, concedido pelo CNPq, MCTI e a Marinha do Brasil, em reconhecimento à sua inestimável contribuição para a ciência brasileira.

Entre outras condecorações, destacam-se a Grã-Cruz da Ordem do Mérito Científico (MCTI), o Green Prize da organização ecológica Paliber, o Prêmio Príncipe Klaus (governo holandês), o Prêmio Fundação Conrado Wessel de Cultura, o título de Cientista do Ano da SBPC e o prestigioso Chevalier de La Légion d’Honneur, concedido pelo governo francês.

Mais de 700 sítios arqueológicos

Segundo o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Niède identificou mais de 700 sítios pré-históricos na região da Serra da Capivara, sendo 426 com pinturas rupestres e evidências de antigas habitações humanas. Seu trabalho pioneiro mudou o entendimento sobre a presença do homem nas Américas, com vestígios que remontam a mais de 12 mil anos.

Impacto social e ambiental

Além da contribuição científica, Niède Guidon também teve forte impacto social na região. A escritora Adriana Abujamra, autora da biografia Niède Guidon — Uma Arqueóloga no Sertão, destacou que a arqueóloga foi responsável por uma “revolução feminina” no interior do Piauí.

“Ela contratou mulheres como porteiras do parque, inspirou lideranças locais e falou em preservação ambiental quando isso ainda era um tema pouco difundido. Se não fosse o trabalho dela, talvez nem tivéssemos as pinturas rupestres, nem a fauna e flora da região preservadas”, afirmou.

Para Adriana, a arqueóloga não só mudou os rumos da arqueologia, mas também transformou a realidade social da região. “A primeira universidade federal no interior do Nordeste, em São Raimundo Nonato, só existe graças ao empenho dela.”

Homenagens

O governo do Piauí publicou nota destacando que Niède Guidon “transformou milhares de vidas na caatinga” desde sua chegada à região, em 1973. “Ela tornou sua missão o reconhecimento das riquezas arqueológicas do Piauí e transformou a vida de sertanejos com programas sociais e iniciativas educacionais.”

O diretor do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Alexandre Kellner, também lamentou a perda. “As contribuições realizadas pela professora Niède Guidon ficarão reverberando por bastante tempo, não apenas na arqueologia, mas também em todos aqueles que atuam na preservação do patrimônio científico, histórico e cultural do nosso país”, afirmou.

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