IBGE lança mapa-múndi com Brasil no centro e Sul no topo para estimular nova visão geopolítica

Mapa inédito reforça protagonismo do país no Sul Global e propõe ruptura com convenções eurocêntricas; especialistas destacam impacto simbólico, político e educativo da nova representação.

Portal Itapipoca Portal Itapipoca
6 minuto(s) de leitura
- PUBLICIDADE -

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) lançou nesta semana uma nova versão oficial do mapa-múndi, que coloca o Brasil no centro do mundo e o hemisfério Sul na parte superior da imagem. A proposta inverte a tradicional orientação cartográfica e propõe uma mudança de perspectiva simbólica e geopolítica sobre a posição do Brasil e dos países do Sul Global no cenário mundial.

- CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE -

O lançamento do novo mapa ocorre em um ano estratégico para o país, que ocupa posições de destaque nas relações internacionais. O Brasil preside o Brics e o Mercosul, além de ser sede da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), marcada para acontecer em Belém (PA), na região amazônica, em 2025.

- CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE -

A nova cartografia elaborada pelo IBGE também destaca os países integrantes do Brics, do Mercosul, das nações lusófonas e da região amazônica. O mapa aponta ainda o Rio de Janeiro como capital do Brics, Belém como sede da COP30 e o Ceará como anfitrião do Triplo Fórum Internacional da Governança do Sul Global, realizado em junho, em Fortaleza.

Em vídeo publicado pelo instituto, a diretora de Geociências do IBGE, Maria do Carmo Dias Bueno, explicou que a inversão do mapa não é um erro, mas uma escolha intencional para romper com a convenção cartográfica que há séculos coloca o Norte no topo. “A posição dos pontos cardeais é uma convenção. Algumas pessoas associam o topo do mapa a valores positivos e a parte inferior a aspectos negativos, o que reforça estigmas e desigualdades”, afirmou.

Segundo ela, o mapa tradicional reflete um viés político e histórico, reforçando a centralidade e superioridade da Europa em detrimento dos países do Sul. “Mapas são representações e, portanto, podem ser ressignificados para expressar outras visões de mundo”, completou.

Para o professor Luis Henrique Leandro Ribeiro, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e diretor da Associação dos Geógrafos Brasileiros, a nova versão publicada pelo IBGE é importante por expressar um novo projeto geopolítico e cultural. “O mapa desnaturaliza visões universalizantes e descentraliza perspectivas consagradas pelos centros de poder mundial. Ele convida o Brasil a ocupar uma posição de protagonismo em um mundo em transformação”, disse.

Já o professor Rafael Sânzio Araújo dos Anjos, da Universidade de Brasília (UnB), lembra que essa perspectiva não é inédita nas universidades brasileiras. “Desde 2007, publicamos mapas com essa orientação invertida e com o Brasil no centro. A diferença é que agora isso ganha oficialidade. É uma elevação da autoestima da nação”, observou.

A mudança proposta pelo IBGE encontra fundamento histórico e artístico. O novo mapa se inspira na obra “América Invertida”, do artista uruguaio Joaquín Torres García, de 1943, que propunha literalmente “sulear” o pensamento e a representação geográfica. A ideia de repensar os padrões convencionais também dialoga com os ensinamentos do educador Paulo Freire, que defendia a valorização das identidades locais e regionais.

O novo mapa-múndi do IBGE utiliza a projeção cartográfica ECKERT III, desenvolvida em 1906 por Max Eckert-Greifendorff. A escolha dessa projeção busca reduzir distorções comuns em outras representações, como a de Mercator, que exagera o tamanho de áreas próximas aos polos, favorecendo visualmente países do hemisfério Norte. Segundo os geógrafos João Pedro Pereira Caetano de Lima e Carolina Russo Simon, da Associação de Geógrafas e Geógrafos Brasileiros, a projeção ECKERT III oferece um equilíbrio mais adequado para fins temáticos e educacionais.

Apesar dos avanços, os pesquisadores alertam para possíveis dificuldades de compreensão por parte do público. “Estamos acostumados com a Europa no centro e o Norte no topo. Essa mudança pode causar estranhamento e até resistência de líderes que se incomodem com uma ruptura das narrativas coloniais”, apontaram.

Para os estudiosos, mapas são instrumentos de poder e expressão política, e nunca são neutros. “Eles refletem interesses, disputas e estratégias. Ao colocar o Brasil no centro e o Sul no topo, o IBGE propõe um novo posicionamento simbólico, reforçando o papel do país na liderança de temas como meio ambiente, desenvolvimento sustentável e cooperação entre países do Sul Global”, destacaram.

O professor Leandro Andrei Beser, também da Uerj, reforça que a cartografia é uma linguagem poderosa que ajuda a moldar a visão de mundo de sociedades inteiras. “Mapas comunicam, e ao comunicar o Brasil como centro do mundo e protagonista de mudanças globais, o IBGE contribui para resgatar vozes antes silenciadas pela cartografia colonial”, afirmou.

- CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE -
Compartilhe
Deixe um comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

- Advertisement -
Enviar mensagem
1
Fale conosco
Envia sua notícia ou denúncia para a nossa equipe de jornalismo!