A Netflix anunciou nesta sexta-feira (5) um acordo histórico para adquirir a Warner Bros. Discovery, em uma das maiores operações já registradas no setor de entretenimento. Com a fusão, a empresa de streaming assumirá o controle total da HBO, de seu catálogo e de suas produções, além de franquias icônicas e estúdios tradicionais de Hollywood.
Pelo acordo, os acionistas da Warner Bros. receberão US$ 27,75 por ação, divididos entre dinheiro e papéis da Netflix. O valor total de capital da transação chega a US$ 72 bilhões, enquanto o valor empresarial é estimado em US$ 82,7 bilhões.
Antes do fechamento, a Warner Bros. concluirá o spin-off de sua divisão de canais — que inclui CNN, TBS e TNT. A cisão deve ser finalizada no terceiro trimestre de 2026, segundo comunicou a Netflix.
O mercado reagiu imediatamente após o anúncio: as ações da Netflix caíam 2,3% no pré-mercado em Nova York, enquanto os papéis da Warner Bros. avançavam cerca de 1%.
A operação marca uma mudança estratégica profunda na trajetória da Netflix. Até hoje, a empresa construiu sua liderança global licenciando conteúdo de terceiros e investindo em produções originais, sem possuir um estúdio tradicional de Hollywood. A compra da Warner Bros. Discovery coloca a gigante do streaming no centro da indústria cinematográfica.
Com a aquisição, a Netflix assume o catálogo completo da HBO, incluindo sucessos como The Sopranos, Game of Thrones, Euphoria, The White Lotus e diversas produções vencedoras do Emmy. A operação inclui ainda os estúdios da Warner em Burbank, na Califórnia, e franquias consolidadas como Harry Potter, DC Comics e Friends.
“Juntos, podemos oferecer mais do que o público gosta e ajudar a definir o próximo século de histórias”, afirmou Ted Sarandos, co-CEO da Netflix, em comunicado oficial.
A Netflix planeja manter as operações atuais da Warner Bros. e fortalecer áreas estratégicas, entre elas os lançamentos cinematográficos — ponto sensível em Hollywood devido ao histórico da plataforma de priorizar estreias diretas no streaming. A empresa afirma que a fusão permitirá ampliar a capacidade de produção nos Estados Unidos, gerar empregos e impulsionar o mercado de entretenimento.
Apesar da expansão, a companhia estima economizar entre US$ 2 bilhões e US$ 3 bilhões anuais a partir do terceiro ano de integração.
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A Warner Bros. Discovery colocou sua estrutura à venda em outubro, atraindo interesse de conglomerados como Paramount Skydance Corp. e Comcast Corp. Segundo a Bloomberg, as negociações exclusivas com a Netflix começaram na quinta-feira (4). A disputa teve momentos de tensão, com a Paramount acusando a Warner de favorecer a Netflix durante o processo.
Para assegurar o acordo, a Netflix se comprometeu a pagar uma multa de US$ 5,8 bilhões caso a operação seja desfeita ou não receba aprovação regulatória.
O negócio ocorre em meio à retração da TV por assinatura, enquanto o streaming segue em expansão. No último trimestre, a divisão de canais da Warner teve queda de 23% na receita, reflexo do cancelamento de assinaturas e da redução de anunciantes.
Fundada como um serviço de entrega de DVDs há quase 30 anos, a Netflix encerrou 2024 com receita de US$ 39 bilhões — valor semelhante ao faturamento anual da Warner Bros., criada na década de 1920.
Com a incorporação do catálogo e da marca HBO, a Netflix reforça sua vantagem sobre concorrentes como Disney e Paramount. No entanto, o acordo deve enfrentar forte escrutínio antitruste nos Estados Unidos e na Europa.
O congressista republicano Darrell Issa manifestou oposição à operação, alegando risco de concentração de mercado. A Netflix argumenta que compete diretamente com plataformas como YouTube, da Alphabet.
A aquisição também reacende debates em Hollywood sobre o futuro das estreias nos cinemas, já que a Netflix tradicionalmente prioriza lançamentos diretos no streaming. A empresa afirma que pretende respeitar e fortalecer o modelo híbrido da Warner Bros.
De acordo com os termos da negociação, os acionistas da Warner Bros. receberão US$ 23,25 em dinheiro e US$ 4,50 em ações ordinárias da Netflix. A conclusão da operação é estimada entre 12 e 18 meses.
O Moelis & Co. lidera a assessoria financeira da Netflix. Wells Fargo, BNP Paribas e HSBC fornecerão US$ 59 bilhões em financiamento de dívida. A Warner Bros. é assessorada por Allen & Co., JPMorgan Chase & Co. e Evercore.



