Pesquisa aponta avanços na humanização do parto, mas revela falhas no pré-natal no Brasil

Fiocruz mostra queda expressiva em práticas consideradas violência obstétrica; cesarianas seguem acima do recomendado pela OMS e acompanhamento pré-natal ainda apresenta graves lacunas.

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Dados divulgados nesta quinta-feira (4) pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revelam mudanças significativas na atenção ao parto no Brasil. A Pesquisa Nascer no Brasil 2, considerada a maior sobre o tema no país, mostra que procedimentos invasivos e ultrapassados, como a episiotomia e a manobra de Kristeller, sofreram queda expressiva nos últimos dez anos, principalmente no Sistema Único de Saúde (SUS).

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Nos partos vaginais realizados pelo SUS, a taxa de episiotomia caiu de 47% para 7%. A manobra de Kristeller, quando profissionais pressionam ou sobem sobre o abdômen da gestante, caiu de 36% para 9%. No setor privado, a prática praticamente desapareceu: apenas 2% das mulheres relataram ter passado por ela. Ambas as intervenções são classificadas como formas de violência obstétrica e oferecem riscos para mãe e bebê.

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Segundo a coordenadora-geral da pesquisa, Maria do Carmo Leal, os dados confirmam a adoção crescente de boas práticas, como a liberdade para a mulher se movimentar e se alimentar durante o trabalho de parto, além da adoção de posições verticalizadas.

“É uma adesão enorme às boas práticas e uma eliminação de intervenções desnecessárias. No Rio de Janeiro, não existe mais aquela forma de parir de pernas para cima, sem poder fazer força. Isso é uma mudança de cultura fruto de políticas públicas”, destacou.

Apesar dos avanços, a pesquisa revela queda no acesso à analgesia — utilizada para amenizar as dores das contrações. No SUS, o índice caiu de 7% para 2% em todo o país, chegando a apenas 1% no Rio de Janeiro. No setor privado, a redução foi de 42% para 33%. Maria do Carmo ressalta que o uso da analgesia pode ser um aliado para favorecer o parto normal.

Outro desafio permanece: o alto índice de cesarianas. No SUS, o percentual subiu de 43% para 48%, sendo 13% realizadas após o início do trabalho de parto. Já no sistema privado, 81% dos partos no país e 86% no Rio foram cesarianas, a maioria agendadas antes das contrações. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a taxa não ultrapasse 15%.

Falhas no pré-natal

Se por um lado houve avanços no parto, por outro, o cenário do pré-natal preocupa. No Rio de Janeiro, embora 98,5% das gestantes tenham recebido acompanhamento, apenas um terço apresentou registro completo de exames básicos, como aferição de pressão arterial e glicemia — fundamentais para identificar riscos de hipertensão e diabetes.

Menos de 34% tiveram prescrição de ácido fólico, essencial para o desenvolvimento do feto, e apenas 31,6% foram vacinadas contra tétano e hepatite B. Entre as gestantes de alto risco, 75% nunca consultaram um especialista, permanecendo apenas no atendimento básico.

“Tem alguma coisa errada. Muitas dessas mulheres não tiveram a pressão arterial medida em todas as consultas, nem exames de glicemia. Além disso, peregrinaram em busca de atendimento adequado, quando justamente não poderiam enfrentar esse tipo de barreira”, alertou Maria do Carmo.

A Pesquisa Nascer no Brasil 2 entrevistou mais de 22 mil mulheres entre 2021 e 2023 e deve orientar novas políticas públicas para ampliar a humanização do parto e corrigir falhas ainda presentes no pré-natal.

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