Um crânio humano fossilizado, descoberto em 1990 na província de Hubei, na China, pode transformar a compreensão sobre os caminhos da evolução humana. A nova análise, publicada nesta quinta-feira (25) na revista Science, indica que o fóssil — datado entre 940 mil e 1,1 milhão de anos — pertence a um ramo inicial de uma linhagem irmã da nossa espécie, conectada aos enigmáticos denisovanos.
O fóssil, batizado de Yunxian 2, foi submetido a sofisticadas técnicas de escaneamento e reconstrução digital para recuperar sua forma original. Os pesquisadores compararam o crânio com mais de 100 outros fósseis humanos e concluíram que ele não pertence ao Homo erectus, como se pensava anteriormente.
Segundo o paleoantropólogo Xijun Ni, da Universidade de Fudan e do Instituto de Paleontologia de Vertebrados e Paleoantropologia da Academia Chinesa de Ciências, que liderou o estudo, Yunxian 2 aparenta ser de um homem com idade entre 30 e 40 anos. O crânio apresenta características únicas: tamanho cerebral maior que o esperado para sua época, face ampla, maçãs do rosto planas e um nariz robusto com ponte saliente, mas sem a proeminência típica dos neandertais.
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Chris Stringer, antropólogo do Museu de História Natural de Londres e coautor do estudo, destacou que o achado pode ajudar a esclarecer a chamada “Muddle in the Middle” — a confusão científica sobre a grande variedade de fósseis humanos datados entre 300 mil e 1 milhão de anos.
Os cientistas situam Yunxian 2 em uma linhagem de hominídeos centrada na Ásia, que inclui o Homo longi e os denisovanos, descobertos em 2010 na Sibéria. Assim como os neandertais, os denisovanos interagiram e se cruzaram com o Homo sapiens, deixando traços genéticos presentes ainda hoje em populações asiáticas.
A pesquisa sugere que a divergência entre os principais ramos do gênero Homo ocorreu antes do que se imaginava, possivelmente há mais de 1 milhão de anos. Foram identificados cinco clados principais: Homo sapiens, Homo longi/denisovanos, Homo neanderthalensis, Homo heidelbergensis e Homo erectus.
“O clado Homo longi foi bastante bem-sucedido na Ásia, ocupando uma vasta região por mais de 1 milhão de anos, com grande diversidade morfológica”, explicou Ni.
Se confirmada, a descoberta coloca Yunxian 2 como uma das peças mais importantes para desvendar os processos evolutivos que moldaram o gênero Homo.